quarta-feira, 8 de julho de 2009

uma sala, salão.

Ninguém aparentemente conhecido, além do professor visto semanalmente. Ninguém sabe quem você é, seu nome, oque fez ou deixou de fazer. Bem, existem vantagens e desvantagens que eu poderia listar cansativamente aqui, mas o foco não é esse.
Uma menina e um menino logo a frente, ela, rindo do vento, mexendo no cabelo, olhando desconfiada para o professor; ele, meio desajeitado procurando mais palavras para impressioná-la ou fazê-la rir. Ou eles estavam só conversando mesmo e eu queria que fosse algo mais. Aposto que a menina também.
Uma criatura distante; de onde eu estava e de onde todos estávamos. Olhava para a frente, mas se um cometa caisse ali naquele momento ela continuaria olhando para frente.
Alguns estavam bastante focados e tentando mudar alguma coisa ao sair dali, outros por obrigação, outros porque não tinham outra alternativa, outros pela ânsia do conhecimento, outros por gostar muito do professor e da aula, nem tanto da matéria. Esse último era o meu caso.
A cada aula eu adorava as coisas engraçadas que ele dizia. Esse dia foi diferente. Era uma aula diferente, eu estava sem meus amigos de rotina, então eu teria que prestar atenção a aula, mas como só isso não me satisfaz, prestei atenção aos dois: aula e professor. Era incrível como a cada questão ele se deixava conhecer um pouco; na maneira de falar, nas indicações de livros e filmes, nas histórias de cotidiano contadas (alunos de anos anteriores, de família, dele próprio). Ao pouco era possível ver muito além daquele professor, era mais claro ainda o ser humano lindo que existia nele. Que ele era muito mais que um leitor, escritor, professor. Ele era tudo isso e algo mais. Minha admiração só fez crescer. Como uma conhecida costuma dizer: ele é incrível. Realmente, ele é.
Não sei quanto a vocês, mas eu tenho a impressão de que todos são mais inteligentes. Aquele ali deve ter feito 60 questões das 66, deve tá aqui so porque gosta e já passou pra medicina e ITA há muito tempo. Uma observação: nunca, nunca levante a mão assim que houve uma pergunta e principalmente de cabeça baixa. Primeiro averigue a pergunta e se de fato você já fez ou não aquilo. Espero que, no mínimo, outras 5 pessoas levante também. Eu não fui esperta.
Estava anotando algo quando ele perguntou: alguém já leu 'Vidas Secas'? E eu automaticamente levantei a mão devido à, minha crença, ela um livro batata nas escolas de ensino fundamental e médio. Então o professor diz: só ela leu o livro? Poxa...
Ai. Como assim só eu li o livro? Como se não bastasse, o professor ainda faz uma pergunta, simples, mas uma pergunta que dispara o meu sistema nervoso e me deixa branca. "Que passagem mais marcou para você?" Como é que eu vou lembrar? Li o livro, faz uns 4 anos, no modo 'automático: ler, decora as personagens, o enredo, a escola literária porque ainda tem mais 5 capítulos pra estudar pra prova.' Busquei o mais rapido na minha mente e respondi. A minha resposta (sob o olhar dos outros 50 que ali estavam) gerou a seguinte afirmação do professor: nossa, quanta sensibilidade. Pensando bem, aquilo foi oque mais me tocou mesmo. Eu não inventei, nem nada.
O mais estranho, no entanto, foi que não era pra ser assim. Eu não era pra ser 'a inteligente' da sala. Estava bem na minha condição de mais uma ali.
E concluindo: fato! Nunca levante a mão imediatamente diante uma pergunta do professor. Averigue bem as circunstâncias.

saudações particulares.
a.

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